domingo, 2 de março de 2008

O primeiro de todos os atos

Quarta-feira

O destino era a Ilha do Fundão. Era de manhã e Deus sabe como é uma merda pra mim essa coisa de acordar cedo. Não conhecia direito o Rio de Janeiro, quanto menos a Ilha, mas tinha que ir lá, afinal era o primeiro ato de muitos que viriam adiante: a oficialização do meu vínculo com a universidade. Orgulhoso, Sr. Pinho não se esquivou à tarefa de me conduzir até lá.

Era uma quata-feira, 28 de janeiro, e na longa fila que me esperava, o tempo ocioso não nos deixa muita alternativa, senão observar o que acontecia em volta. O U2 tinha tocado na noite anterior no autódromo Nelson Piquet e na enorme fila de novos calouros que se formava, não era incomum rostos exaustos, baleados da ressaca e algumas cabeças com faixas promocionais da Tour Pop Mart.

Na minha frente, tinha um sujeito baixo, branco, sardento, sorriso deslumbrado e que não parava de falar. Era o típico calouro que via a realização de um sonho e isso estava estampado na sua cara, só que eu não precisava ficar ouvindo toda aquela conversa e fazendo cara de simpático. O maluco até era gente boa, mas o meu azar foi que, a primeira pessoa da faculdade que eu conheci era um mala sem alça nem ziper.

Entre uma abobrinha e outra que eu ouvia do mala, pude perceber que 3 sujeitos vinham em direção aos calouros para darem aquela sacaneada. "Puta merda... mas será que esses veteranos não tëm mais o que fazer?". Eram duas meninas e um cara de cuja masculinidade eu podia desconfiar naquele momento. Sei lá, né... parecia aquele tipo de garoto que eu conheci na infância que não gostava de jogar bola e preferia brincar de queimado, alerta e por isso ficava mais próximo das meninas. Vim a descobrir que seu nome era Cid quase um ano mais tarde e vi que estava errado - hehehe.

Mas voltando... os 3 veteranos escolhiam a dedo os calouros a sacanear e faziam o que podiam para envergonhá-lo. Tá certo que não tinham lá grande talento para a coisa, mas não era eu o cara que queria passar o constrangimento de ficar envergonhado pelo papelão que eles estavam fazendo e, na realidade, eu tinha lá a minha certeza de que não era em mim que eles viriam. Há uma coisa que eu propositadamente deixei de comentar sobre a mala falante que estava na minha frente: ele era ruivo (sentiu meu drama?).

Era ÓBVIO que eles iriam em cima do (já) Ruivo Hering, e de fato foram. Fizeram algumas brincadeirinhas meio sem graça com o pobre do mala, deram apelidinhos mil, deixaram o jovem sem graça e foram embora, me deixando pra trás - eu, esse rapaz regularmente pigmentado, tipicamente brasileiro - deixando uma benesse: um ruivo calado e embaraçado.

Jurei pra mim mesmo que um dia estaria lá esperando meus calouros e fazendo algo realmente constrangedor com eles, mas essa já é uma história para outro post.